Na última sexta-feira, em meio a um plantão, recebi a notícia inesperada do meu filho Pedro, que nosso querido amigo Ronaldinho havia falecido. Ronaldo, o hamster, foi nosso primeiro bichinho de estimação. Ele nos trouxe muitas alegrias, demos boas risadas e tiramos um pouco do mau humor que nos rondava.
Quando
cheguei em casa me deparei com a imagem de Pedro com o amiguinho nas mãos,
lamentando e chorando sua partida. Era tão novinho, quero ele de volta,
ele dizia. Logo, acolhi meu menino, dei-lhe um abraço e o escutei. Assim ele se
distraiu quando viu que o computador estava ligado e permaneceu no seu joguinho
até no final da noite quando saímos para jantar. Lá não havia telas para
distrai-lo e, foi então, que ele pôde acessar a experiência nunca antes vivida por
ele: A morte. Pedro, aos prantos, expressava sua dor, me pedia colo, recusou
sua bebida preferida e o jantar escolhido por ele. Está doendo muito,
mãe. O gemido de dor ressoava naquele espaço barulhento.
No carro,
pediu que eu o acompanhasse no banco de trás e o choro persistiu ao final da
noite. Correu para o meu quarto esperando meu alento e pediu para dormir abraçado
comigo, foi então que, o choro pela perda do Ronaldo se transformou no choro da
criança que teme a perda da mãe. Mamãe, não quero que você se vá! Assim
adentramos a madrugada abraçados, ambos chorando, falando sobre a vida: sobre
medos, sobre a morte, sobre Ronaldo e sobre a mãe.
A importante experiência do luto, a expressão da dor, o diálogo advindo dele só foi possível porque havia atenção. A atenção nas telas é um hábito perigoso de nossa cultura. Calligaris, psicanalista e escritor famoso, chega a mencionar sobre a dificuldade que temos em manter atenção na vida e, acrescento, em nós. De acordo com ele, tendemos a caminhar para uma vida cada vez menos interessante, cuja cultura não está disposta a fruir da vida com uma intensidade que valha a pena, é ai que, criamos mais uma tensão para a criança e futuro adolescente, já que viver implica perceber, sentir e elaborar a vida como ela se apresenta, seja quando se perde um brinquedo, um amigo ou a própria mãe.
A geração de pais que a única preocupação é manter os filhos felizes e intretidos fica uma questão? Queremos para nossos filhos uma vida surperficial e sem sentido ou uma vida que vale a pena ser vivida?
Que
nada tire nossa atenção do que importa.
Bon Voyage.