domingo, 19 de novembro de 2023

A CRIANÇA, A MORTE, O LUTO.

 


Na última sexta-feira, em meio a um plantão, recebi a notícia inesperada do meu filho Pedro, que nosso querido amigo Ronaldinho havia falecido. Ronaldo, o hamster, foi nosso primeiro bichinho de estimação. Ele nos trouxe muitas alegrias, demos boas risadas e tiramos um pouco do mau humor que nos rondava.

Quando cheguei em casa me deparei com a imagem de Pedro com o amiguinho nas mãos, lamentando e chorando sua partida. Era tão novinho, quero ele de volta, ele dizia. Logo, acolhi meu menino, dei-lhe um abraço e o escutei. Assim ele se distraiu quando viu que o computador estava ligado e permaneceu no seu joguinho até no final da noite quando saímos para jantar. Lá não havia telas para distrai-lo e, foi então, que ele pôde acessar a experiência nunca antes vivida por ele: A morte. Pedro, aos prantos, expressava sua dor, me pedia colo, recusou sua bebida preferida e o jantar escolhido por ele. Está doendo muito, mãe. O gemido de dor ressoava naquele espaço barulhento.

No carro, pediu que eu o acompanhasse no banco de trás e o choro persistiu ao final da noite. Correu para o meu quarto esperando meu alento e pediu para dormir abraçado comigo, foi então que, o choro pela perda do Ronaldo se transformou no choro da criança que teme a perda da mãe. Mamãe, não quero que você se vá! Assim adentramos a madrugada abraçados, ambos chorando, falando sobre a vida: sobre medos, sobre a morte, sobre Ronaldo e sobre a mãe.

A importante experiência do luto, a expressão da dor, o diálogo advindo dele só foi possível porque havia atenção. A atenção nas telas é um hábito perigoso de nossa cultura. Calligaris, psicanalista e escritor famoso, chega a mencionar sobre a dificuldade que temos em manter atenção na vida e, acrescento, em nós. De acordo com ele, tendemos a caminhar para uma vida cada vez menos interessante, cuja cultura não está disposta a fruir da vida com uma intensidade que valha a pena, é ai que, criamos mais uma tensão para a criança e futuro adolescente, já que viver implica perceber, sentir e elaborar a vida como ela se apresenta, seja quando se perde um brinquedo, um amigo ou a própria mãe. 

A geração de pais que a única preocupação é manter os filhos felizes e intretidos fica uma questão? Queremos para nossos filhos uma vida surperficial e sem sentido ou uma vida que vale a pena ser vivida?

Que nada tire nossa atenção do que importa.

Bon Voyage.

 Cintia

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